Multimodalidade e Educomunicação
Como professora de Língua Portuguesa, estava ansiosa por essa temática diretamente relacionada à área de linguagem. A primeira atividade do módulo foi justamente discutir o conceito de linguagem – tarefa que parece simples, mas não é. Há múltiplas definições desse conceito. Para nós educadores, a concepção enunciativo-discursiva apresentada pela BNCC é fundamental para compreender os textos e seus contextos de produção. Além disso, o olhar para a multimodalidade é fundamental, uma vez que ela está cada vez mais presente na comunicação, principalmente na esfera digital, e nos apresenta uma série de novos gêneros:
“Esses “novos escritos”, obviamente, dão lugar a
novos gêneros discursivos, quase diariamente: chats,
páginas, tweets, posts, ezines, funclips etc. E isso se dá
porque hoje dispomos de novas tecnologias e ferramentas de “leitura-escrita”,
que, convocando novos letramentos, configuram os enunciados/textos em sua
multissemiose (multiplicidade de semioses ou linguagens), ou multimodalidade.
São modos de significar e configurações que se valem das possibilidades
hipertextuais, multimidiáticas e hipermidiáticas do texto eletrônico e que
trazem novas feições para o ato de leitura: já não basta mais a leitura do
texto verbal escrito – é preciso colocá-lo em relação com um conjunto de signos
de outras modalidades de linguagem (imagem estática, imagem em movimento, som,
fala) que o cercam, ou intercalam ou impregnam. Esses textos
multissemióticos extrapolaram os limites dos ambientes digitais e
invadiram, hoje, também os impressos (jornais, revistas, livros didáticos).”[1]
Nos últimos anos, percebo em sala de aula, como professora de gramática
e produção textual no Ensino Médio, grande defasagem em a escola acompanhar a
multimodalidade. Os livros didáticos de Ensino Médio são geralmente voltados ao
texto verbal. As supostas inovações presentes nessas obras abarcam pouquíssimos
gêneros digitais como e-mail ou postagem em fórum.
Os alunos, cada vez mais distante das práticas tradicionais escolares em sua vida cotidiana, enxergam a Língua Portuguesa como algo extremamente distante do mundo concreto e disfuncional para uma comunicação efetiva. Ademais, o abismo que há entre a norma padrão presente nos livros didáticos e as variações do português popular brasileiro aumentam ainda mais esse distanciamento. Assim, a escola perde a oportunidade de formar um aluno que perceba a importância da linguagem para a comunicação e exercício da cidadania, ou seja, linguagem como cultura, identidade, comunicação e representação. Distante da realidade, a escola só reforça uma aprendizagem teórica antiquada de uma língua vista apenas em seus aspectos morfológicos e sintáticos. Analogamente, é como uma aula ruim de anatomia ad eternum: estudam-se as partes de um organismo que o aluno nem viu vivo e nem atuante em seu habitat.
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Percebo,
mais no Ensino fundamental II, algumas tentativas de projetos para trazer a
multimodalidade para o espaço escolar. Entretanto, geralmente são trabalhos
cujo leitor final é um professor ou um grupo deles. Se há um produto, no máximo
ele ganhará um espaço na feira-cultural – com a pandemia pela qual estamos
passando, nem isso é possível, pois aglomerações são proibidas. Dessa forma, o
público, um dos elementos básicos do esquema da comunicação, raramente ganha
contornos definidos na escola. O aluno produz para o professor ou, quiçá, para
a comunidade escolar em eventos específicos para mostrar para os pais o
resultado concreto com direito a muito glitter e cartolina. É apenas isso. Como
isso é distante da vida real...
A escola, não só aqui no Brasil, mas em outros lugares do mundo, está
bastante distante das necessidades das comunidades. Agradeço ao professor
Marcelo por reavivar meu olhar para isso, de forma tão sensível, por meio do
filme “O menino que descobriu o vento”. Eu já havia assistido a esse
filme, mas não da perspectiva de uma educadora atenta às questões relacionadas
às metodologias ativas. Ali, a carência de funcionalidade da escola e a
ausência de diálogo entre ela e alunos a distancia cada vez mais de um dos seus
papéis sociais mais importantes: formar um cidadão para agir no mundo de forma
positiva para si e para os outros.
É a educomunicação que abre espaço
para trazer
parte do senso de realidade à comunidade escolar. Adicionalmente, também
possibilita a abertura de um espaço dialógico. Paulo Freire, patrono da
educação brasileira, foi, antes mesmo da criação e popularização do termo
“educomunicação”, alguém que trabalhou com seus princípios (comunicação,
diálogo e contextualização). Recomendo a todos que assistam ao vídeo (3:31) abaixo que tece sucintamente relações entre educomunicação, espaço dialógico e
esse autor.
Estou aqui dissertando sobre educomunicação, mas ainda não a defini. Por isso, segue abaixo uma definição apresentada pelo professor Ismar de Oliveira soares, uma das maiores autoridades sobre o assunto no Brasil:
“A Educomunicação define-se como um
conjunto das ações destinadas a:
1 - integrar às práticas educativas
o estudo sistemático dos sistemas de comunicação (cumprir o que solicita os
PCNs no que diz respeito a observar como os meios de comunicação agem na sociedade
e buscar formas de colaborar com nossos alunos para conviverem com eles de
forma positiva, sem se deixarem manipular. Esta é a razão de tantas palestras
sobre a comunicação e suas linguagens);
2 - criar e fortalecer ecossistemas
comunicativos em espaços educativos (o que significa criar e rever as relações
de comunicação na escola, entre direção, professores e alunos, bem como da
escola para com a comunidade, criando sempre ambientes abertos e democráticos.
3 - melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das ações educativas.”[2]
Foi muito interessante me debruçar, neste módulo, sobre a
Educomunicação: história, aspectos teóricos e práticos. Agradeço as
contribuições da educadora Verônica Cannatá em relação à teoria, por meio de
sua aula sobre educomunicação, e à prática também, pelas pertinentes
observações ao nosso trabalho em grupo que visava proporcionar a alunos, de um
9º ano, a oportunidade de participar de um projeto educomunicativo na área de
gamificação.
Agradeço ao professor Marcelo Ganzela por ter me apresentado três
conceitos em especial: a aprendizagem solidária, a cidade como espaço de
aprendizagem e a importância da criação de um ecossistema educomunicativo para
uma aprendizagem mais próxima à realidade dos alunos. Isso me fez pensar o
quanto a escola está longe de realmente formar um cidadão voltado para uma
convivência democrática e que vise ao respeito ao próximo em um espaço que seja
acolhedor e educativo para todos.
Terminei o módulo com vontade de cursar Educomunicação na Universidade
de São Paulo ou quem sabe fazer meu doutorado lá. O campo de trabalho é vasto,
como é possível observar a seguir:
http://moodle.educacao.rs.gov.br/mod/book/view.php?id=7294&chapterid=1103
Para quem quiser se aprofundar no
universo da educomunicação, há um livro digital interessante disponível gratuitamente
sobre o assunto[3]. Adicionalmente recomendo
a live recente do professor Ismar de Oliveira soares “Educomunicação, um
novo paradigma”[4].
[1] Roxane Rojo. Disponível em
Glossário Ceale. Acesso em 9/5/2021: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/textos-multimodais
[2]
Mas, afinal, o que é educomunicação? Ismar de Oliveira Soares. Acesso em
9/5/2021: Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/27.pdf
[3] Disponível em: http://moodle.educacao.rs.gov.br/mod/book/view.php?id=7294
[4] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WLJ3abx5U-Y
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