Rotinas de Pensamento: como deixar a aprendizagem dos alunos visível?

    Aprendizagem visível: mais um módulo da pós graduação em Metodologias Ativas para uma educação inovadora no Instituto Singularidades. Julia Pinheiro Andrade será nossa professora - ainda em EAD devido à pandemia de coronavírus. Eu nunca tinha ouvido falar sobre "pensamento visível" ou "rotinas de pensamento". Já na primeira aula, relatei o meu desconhecimento sobre o assunto:



    Gostei dessa estratégia da professora: começar o módulo conhecendo o que os alunos sabiam sobre o assunto aprendizagem visível. Na maioria das vezes, principalmente nos cursos de ensino superior ou pós graduação, os professores não verificam o conhecimento prévio do estudante, que é uma das premissas de um ensino que valoriza o aluno como centro do processo de aprendizagem ("faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço"). Entendo que, para muitos, isso seja perda de tempo - artigo escasso para professores que devem, em poucas aulas de um módulo, passar uma quantidade grande de informação para os alunos. 
    A Julia pediu três registros sobre o nosso saber: dois individuais (um documento para preencher e outra postagem em um Jamboard - a minha resposta está reproduzida acima) e um coletivo (preenchemos juntos no Mentimeter) para formar um mapa do conhecimento da sala. A quantidade de registros iniciais chamou-me a atenção, uma vez que não entendi o porquê disso. Um registro apenas não seria suficiente? Eu mesma encontrei a resposta no meio do módulo. Aguardem-na.
    Segundo o Projeto Zero, desenvolvido pela universidade de Havard (EUA), pensamento visível é uma estrutura conceitual flexível e sistemática baseada em pesquisa, que visa integrar o desenvolvimento do pensamento dos alunos com a  aprendizagem do conteúdo. É importante, para isso, documentar, escutar e questionar os aprendentes. A aprendizagem não pode ser confundida com a capacidade de memória. A aprendizagem é muito mais do que isso: é refletir de forma contínua. 
    Deixar visível o pensamento dos nossos alunos é imprescindível para que façamos, de fato, um acompanhamento do processo de aprendizagem, pois é possível ver acertos, erros, ideias etc. Ou seja, é possível acompanhar o raciocínio e intervir se for necessário. Para quem consegue ler em inglês, vale à pena entrar no site para conhecer o Project Zero. Disponibilizo aqui também um vídeo curto, em inglês, que sintetiza bem a discussão:


    Não é possível falar sobre a aprendizagem visível e não mencionar Jonh Hattie. Ele sintetizou anos de pesquisas envolvendo milhões de estudantes - você não leu errado, são milhões mesmo - para buscar dados que possibilitassem impactar positivamente o processo de aprender. Infelizmente, seu livro Visible Learning, de 2009, não foi lançado em português. Entretanto, seu livro Aprendizagem visível para professores - como maximizar o impacto na aprendizagem foi publicado no Brasil, em português, pela editora Penso. É um livro excelente para a comunidade educativa ler e discutir, pois por meio dele é possível acompanhar, passo a passo, como estruturar uma aula mais eficiente em que o aluno se torna o centro de seu próprio processo de aprender - uma das bases das metodologias ativas. 


    No esboço dos capítulos, na página 6, John Hattie apresenta um quadro que sintetiza o que será trabalhado em boa parte da obra. 


    Cada capítulo traz orientações bastante concretas, por meio de checklists, para que a aprendizagem se torne visível. Achei muito interessante a forma como o autor destaca a importância do retorno que damos para nossos alunos de suas atividades, o feedback. De forma geral, muitas escolas apresentam devolutivas pontuais do processo de aprendizagem, frutos de avaliações também pontuais (as temidas provas). Na aprendizagem visível isso é impensável, pois é considerado pouco eficiente. Como duas ou três devolutivas em um bimestre/trimestre podem colaborar para uma aprendizagem efetiva? Repensei parte das minhas práticas em sala de aula após a leitura dessa obra. 
     Para quem ainda não pode comprar o livro, é possível se aprofundar neste universo, tão interessante, por meio da leitura dos textos A proposta de Havard para uma educação para a compreensão e Metodologias ativas para uma aprendizagem melhor: conheça a abordagem Visible Learning - este último é uma entrevista dada por Julia Pinheiro, nossa professora neste módulo. No vídeo a seguir, é possível ouvir uma educadora relatando os benefícios da aprendizagem visível também:


   Uma das formas de fazer com que a aprendizagem se torne visível é por meio das Rotinas de Pensamento. Essas rotinas apresentam dois objetivos fundamentais: criar oportunidades para pensar e tornar o pensamento dos discentes visível. Elas guiam os processos de pensamento dos alunos e encorajam o processamento ativo. No Projeto Zero, há uma lista dessas rotinas em inglês: Project Zero's Thinking Routine Toolbox. Em português, temos um material bem interessante, redigido por Cesar Nunes, publicado pela prefeitura de São Paulo: Rotinas de pensamento. Em ambos os materiais há exemplos dessas rotinas que podem ser aplicados não só na educação básica, mas no ensino superior também.
    Em nossas aulas, Julia foi muito cuidadosa em relação a nossas práticas: aprendemos todos esses conteúdos por meio de diferentes Rotinas de Pensamento. Uma rotina bastante interessante para avaliar, de forma sintética, o que um aluno considera essencial em um determinado conteúdo, é a produção de manchetes. Aqui reproduzo a minha sobre Rotinas de Pensamento: 


   Fizemos também a Rotina 3,2,1. para sistematizar o que estávamos aprendendo nas aulas sobre o Pensamento Visível:

    Nessa rotina, é pedido que o aluno sintetize o que ele aprendeu em 3 palavras, duas perguntas e uma imagem. Ao avançar na aprendizagem, repetimos a mesma rotina e fizemos uma ponte entre a anterior e a nova:


   Com essa rotina, é possível ver minha evolução enquanto aprendente. Percebo isso claramente pela troca de imagens que realizei. Na primeira, escolhi uma imagem em o professor ainda é a figura central do ato de aprender: é ele quem segura o livro e encanta os alunos. Na segunda imagem, ver a parte interna da laranja é uma metáfora para ver aquilo que não está na superfície: os pensamentos dos alunos. 
    Em todas as nossas aulas, as Rotinas de Pensamento estiveram presentes. Fizemos várias: Vejo, Penso e Pergunto; Bússola, JigSaw etc. Reproduzo algumas a seguir.

Bússola:


Cor, símbolo e imagem:


3,2,1: 3,2,1

   
    Foi só no meio do Módulo que percebi as intenções da professora Julia: desde a primeira aula registramos toda a nossa trilha de aprendizagem por diferentes rotinas: estávamos deixando a nossa aprendizagem visível e isso se deu de forma individual e coletiva. Ao final do módulo, era possível perceber claramente o quanto eu havia aprendido, uma vez todo o meu processo estava registrado, toda a minha evolução. E não somente a minha! Era possível acompanhar a evolução da turma. A riqueza de registros era, sem dúvida, a própria comprovação da importância de tornar a aprendizagem visível. A última aula do Módulo foi exatamente para, por meio da metacognição, rememorar nosso processo. Fiquei orgulhosa! Muito obrigada, Julia!
     Minhas aulas mudaram significativamente após este Módulo. Hoje, considero fundamental tornar o pensamento dos alunos visível. É imprescindível para eles, porque possibilita mais engajamento. Não é motivador perceber o quanto podemos aprender? Acompanhar nossas conquistas? É imprescindível para mim, uma vez que posso acompanhar o processo de aprendizagem bastante de perto tanto de forma coletiva quanto individual. É possível interferir mais cedo - isso diminui alunos em recuperação, por exemplo. Segue abaixo dois registros, feitos no Mentimeter, para registrar o antes e o depois:





    Aqui segue uma aula com a Rotina de Pensamento: Vejo, Penso e Pergunto junto com o Zoom. Os alunos adoraram a atividade. Vejam parte dos comentários de uma das salas sobre o que eles aprenderam:


    Hoje posso afirmar que tornar o pensamento dos meus alunos visível é algo que se tornou constante em minha prática profissional. Muito obrigada, Julia!
       
        

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