A aprendizagem entre pares: os seminários integradores


    Ao pensar sobre as práticas de ensino, independentemente da metodologia, há algo em comum a todas elas: a presença do professor e do aluno. No ensino tradicional, o protagonismo é do docente: ele é o detentor do saber. Nas metodologias ativas, o aluno assume um protagonismo e uma autonomia muito importantes para o desenvolvimento de habilidades e de competências que extrapolam o espaço escolar. Entretanto, o professor continua ali presente, desenhando as trilhas de aprendizagem, dando suporte a ela, possibilitando que obstáculos sejam superados etc. Não há problema algum nisso.
  Na pós-graduação em Metodologias Ativas para uma educação inovadora, que curso no Singularidades, há uma prática muito interessante denominada Seminários integradores. Nela, alunos assumem o papel do professor para possibilitar que possamos compartilhar o que sabemos, para que possamos aprender entre pares. Até o mês de outubro de 2020, tivemos dois Seminários integradores. É a quarta pós-graduação que faço e, pela primeira vez, vi a concessão de um espaço real para que pudéssemos compartilhar o que sabemos. Afinal, todos têm algo para ensinar.
    Ceder a um aluno o espaço para que ele possa ensinar o que sabe é uma prática excelente para o desenvolvimento da autonomia e do protagonismo. Aprendi bastante com a experiência: conteúdos inovadores, colegas qualificados e generosos dispostos a compartilhar o que sabem. Alguns ficaram bastante nervosos, pois não é fácil mudar o público-alvo, uma vez que, por mais que o professor seja experiente, a plateia não é a mesma. Agora, os alunos são todos professores, estudantes de pós-graduação. 
    Saí pensativa do primeiro seminário. Será que dou esse espaço para meus alunos? Não estou considerando aqui o sentar em dupla ou em grupo para realizar atividades - o que já acho muito válido. Estou pensando em espaços maiores em que o aluno possa escolher o que e como ensinar. Apresentação de seminário vale? Fiz essa pergunta para mim e cheguei à conclusão que não. Geralmente, em seminários, projetos ou outros trabalhos em grupo, tudo, ou quase tudo, é definido pelo professor. No fundo, eles estão cumprindo tarefas. Creio que deixar para o aluno definir sobre o que ele gostaria de apresentar, ensinar ou desenvolver é fundamental para que haja de fato o desenvolvimento de protagonismo e de autonomia. E não é só isso. Para quem esse trabalho será apresentado? Para o professor? Ele é o público-alvo? Quando isso ocorre, creio que a aprendizagem entre pares também fica comprometida. 
   Apesar de não haver quase espaço para isso, vejo a aprendizagem entre pares ocorrendo com certa frequência no ambiente escolar, mormente nas vésperas de avaliação. É recorrente ver alunos ali estudando juntos, "quebrando a cabeça" para revisar ou até mesmo aprender os infindáveis conteúdos a que são submetidos. Às vezes, os vejo reunidos na própria sala de aula ou na sala de estudos: um aluno assume o papel de professor, vai à lousa e reproduz exatamente aquele modelo tradicional de aula a que estão acostumados. Muitos aprendem ali, entre pares, o que não foi aprendido em sala. Por que eles aprendem ali? Atenção plena devido às imperiosas provas a que serão submetidos? Compartilhamento de um mesmo dialeto? Vínculo afetivo significativo? Ausência de vergonha ou de medo de perguntar a um outro colega? Não tenho resposta para essa pergunta. 
   Creio também que nós professores pouco dividimos nossas práticas. Professor raramente aprende com professor. Fala-se muito em Metodologias Ativas nas escolas, mas não há concessão de espaço para que possamos aprender uns com os outros. A aprendizagem entre pares é um tabu nas instituições, porque muitos têm medo de se expor ou porque a instituição, assim como muitos professores, têm os seus preferidos. Ou seja, só concede espaço e voz para os mesmos indivíduos que geralmente estão em uma posição hierárquica superior a dos docentes: coordenadores e outros gestores em geral. 
    A escola precisa ser repensada, principalmente as múltiplas relações de poder que nela se estabelecem. Creio que, hoje, são elas que obstam mudanças efetivas para a construção de uma educação libertadora, prazerosa e centrada na autonomia e no protagonismo do estudante. 
    
 
     

 

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