Cidadania digital

   


"O fenômeno chamado “Figital” mostra que, pouco a pouco, a fronteira entre o mundo físico e o digital se confunde e dá lugar a novas formas de relacionamento entre as pessoas, a jeitos inéditos de aprender e de ensinar, a novos desafios éticos e a diferentes maneiras de se posicionar no mundo."
(Fernanda Furia)¹

    

    Ainda em aula on-line devido à pandemia de coronavírus. Estamos no terceiro módulo da pós-graduação em Metodologias Ativas no Singularidades: Ética e cidadania na sala de aula conectada. Helena Mendonça, nossa professora, é responsável pela área de tecnologias educacionais da Escola da Vila.

    A primeira aula me surpreendeu. Antes de qualquer coisa, fizemos uma apresentação pessoal, contando para a turma sobre algo que nos está fazendo bem nestes tempos de quarentena. De início, achei a atividade cansativa e desnecessária, pois a turma é grande e supostamente já se conhece. Entretanto, surpreendi-me positivamente ao ouvir meus colegas. De alguns, eu não me recordava da fisionomia. De outros, conheci um lado diferente daquele que vi em sala de aula. Terminei a atividade bastante emocionada, pois foi um momento importante de humanização em uma rotina de isolamento. Sem a empatia, a construção das relações e o diálogo entre as pessoas ficam bastante difíceis, uma vez que é ela que permite ver o outro e reconhecer que atrás das máquinas há pessoas - Safernet - Cinco dicas para buscar mais empatia e diálogo na internet. Não há como trabalhar a cidadania sem reconhecer a importância do outro.

    A cidadania digital, segundo o professor especialista Mike Ribble, é "o uso responsável e apropriado da tecnologia". Para ele, eis o nosso papel como educadores: ensinar os educandos a navegar pela internet de forma ética e segura



    Quando falamos sobre cidadania, independentemente de ser ou não na esfera digital, é importante reconhecer o outro como um sujeito dentro de um coletivo. A cada cidadão cabe direitos e deveres para que o espaço coletivo possa ser o melhor possível para todos - preferencialmente, um espaço ético. 

“parece prudente atentarmos bem para o que fazemos, procurando adquirir um certo saber-viver que nos permita acertar. Esse saber-viver, ou arte de viver, se você preferir, é o que se chama de ética.” (Fernando Savater²)

      Com o advento da popularização da internet, intensificada pelo aumento exponencial de seu uso na pandemia pela qual passamos, a cidadania digital é fundamental. A seguir, há alguns motivos que realçam sua importância: 

Pontos que justificam a importância da cidadania digital

        É comum ouvir o discurso que nossos alunos sabem muito mais sobre tecnologia / internet do que nós professores. A maioria de nossos alunos, ao contrário de nós, tiveram contato com a internet desde pequenos. Dependendo da idade para a qual o professor leciona, o aluno pode ser até mesmo um nativo digital. É importante deixar claro que estou considerando uma situação ideal, ou seja, alunos com condições de acesso à internet e aos aparelhos que possibilitam isso (smartphone, notebook etc). Infelizmente, em nosso país, em que a desigualdade social extrema é uma realidade, há muitos que não possuem esse acesso - Brasil tem 4,8 milhões de crianças e adolescentes sem internet em casa (dados de 2020).

    Crianças e jovens ficam bastante conectados. Entretanto, tempo de conexão ou perfil em diferentes redes não garantem que eles conheçam de fato o universo digital, por isso cabe à escola o letramento nessa área. A cultura digital é uma das competências gerais da BNCC. Ela deve ser trabalhada por todas as áreas de conhecimento e não apenas por um professor específico. Há um texto muito interessante no site da Nova Escola para quem quiser aprofundar a leitura sobre essa questão: COMPETÊNCIA 5: CULTURA DIGITAL.

    As tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs) devem ser incorporadas à prática docente. Muitos veem nelas uma forma de facilitar a aprendizagem, de deixar o conteúdo mais atrativo para os alunos. Entretanto, elas não devem se resumir à mera ferramenta ou suporte. Elas devem ser ferramentas de criação de conteúdo pelos próprios alunos de forma segura e ética, pois muitos de nossos alunos não são apenas usuários, são produtores de conteúdos digitais.

  Nós, professores, cientes dessas questões, devemos estar preparados para trabalhar com a cidadania digital nas escolas. Há um texto da professora Débora Garofalo com orientações interessantes sobre esse tema: O que é essa tal de cidadania digital? Há também orientações muito interessantes disponíveis no Observatório de educação - ensino médio e gestão do Instituto Unibanco: AUMENTO DE TEMPO ON-LINE REQUER ATENÇÃO DOS GESTORES PARA O TEMA DA CIDADANIA DIGITAL

     As aulas da Helena Mendonça foram fundamentais para que eu repensasse minhas práticas em relação à minha cidadania digital e como trabalho isso com meus alunos. Gostaria de, para finalizar, compartilhar aqui duas propostas de trabalho que fiz com meus alunos com base em alguns pontos estudados neste módulo da pós-graduação. 

    Para fechar o trimestre, em minha última aula com o terceiro ano do Ensino Médio, debatemos sobre o Capitalismo de Vigilância - para ter acesso à aula, clique no link a seguir: Capitalismo de vigilância - professora Amábile

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    A partir de uma atividade apresentada durante este módulo, criei um tema de redação para meus alunos também:


"Na internet há um mar de informações, acessíveis para o aluno, porém, é papel do professor ajudá-lo a atravessar esse mar."

Fernando Savater


1 - Mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes pela University College London na Inglaterra. Membro da The British Psychological Society da Inglaterra: Inteligência emocional digital: o que é e como desenvolvê-la.

2 - Reconhecido pensador dos campos da ética e da educação, o filósofo espanhol Fernando Savater, professor na Universidade de Madrid, é autor de mais de 50 obras. Em sua conferência no Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre, falou sobre a educação para a cidadania e como isso constitui uma preocupação primordial da sociedade: A educação do cidadão no século XXI.


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