Testes de aprendizagem e personalidade

    Começamos o 2º módulo da pós graduação em Metodologias Ativas: ensino híbrido e educação na cultura digital. Aulas a distancia devido ao novo coronavírus. Continuamos com a professora Lilian Bacich e com a assistência de Michael Filardi. Soma-se aos dois o professor Fernando Trevisani. Simpático, mostrou-se bastante acessível: gosto de gente como  a gente, isto é, que está na sala de aula. Essa é uma característica dos professores do Singularidades.
    Já presenciei muita gente gabaritada, dando cursos de formação em escolas, com propostas irrealizáveis para uma sala de aula do Ensino Médio, por exemplo. É aquele momento em que o corpo docente se olha e, apesar de não externalizar, todos estão pensando o mesmo: "isso é muito bom na teoria, mas não cabe na nossa realidade". Geralmente, são pessoas que estão há muito tempo sem colocar os pés em uma sala de aula, ou seja, desconhecem a geração que aí está.     
    Só quem está na sala de aula e conhece as múltiplas realidades do ensino no Brasil, seja público ou privado, é capaz de compreender o quanto a sala é um espaço complexo. Há múltiplas variáveis que o professor precisa considerar ao planejar uma atividade: público-alvo, quantidade de pessoas envolvidas, espaço, tempo, recursos (como a disponibilidade de tecnologia) etc. Entre elas, está o conhecimento que o estudante tem de si mesmo, ou seja, como ele aprende.
    Nas escolas, geralmente, ensinamos o aluno a estudar: organizar o material, organizar o caderno, anotar a pauta do dia, registrar as informações passadas pelo professor, resumir, fichar etc. Conheci uma professora que dava uma avaliação sobre a organização do caderno: 1) escreva a resposta do item c) do exercício 4 do dia X, 2) escreva a pergunta do exercício 8 do dia y... Resumindo: para muitos professores o aprender está ligado ao ato de registrar informações seja no caderno, seja no tablet - o suporte aqui é indiferente.
    Durante minha formação em psicopedagogia no Mackenzie, já havia aprendido bastante sobre o quanto o aprender é um ato multifatorial: atenção, memória de trabalho, memória de longo prazo, funções executivas etc. Geralmente, só olhamos para isso quando o aluno apresenta alguma dificuldade acentuada ou transtorno. Caso ele esteja ali na média, consideramos que ele tem um desenvolvimento supostamente normal e seguimos com o conteúdo. 
    Depois de concluir a Psicopedagogia, eu sempre levo em conta que há, pelo menos, três tipos de aluno: o visual, o auditivo e o sinestésico. Por isso, tento apresentar o conteúdo de forma que esses três tipos sejam contemplados. Eles veem, ouvem e sentem (escrevendo, movimentando-se etc). De forma geral, os índices de meus alunos nas avaliações melhoraram muito depois disso. 
    Eu, como professora só do Ensino Médio há quinze anos, sempre considerei que meus alunos já tivessem certa consciência de qual(is) forma(s) de estudar era(m) mais válida(s) para eles. Nada como a vida para jogar um balde de água fria em nossas certezas...
    Com a pandemia, o ensino remoto se tornou uma realidade para todos nós, alunos e professores. O distanciamento me mostrou como algumas coisas que damos por certas não são tão certas assim. Com o distanciamento social, os discentes, por mais que tenham o nosso apoio, estão estudando bastante sozinhos. Muitos não conseguem nem se organizar - compreensível neste momento em que vivemos. Não sabem como estudar em casa. Recebi vários pedidos de ajuda. Entre eles, o de uma aluna do 3º ano do EM. Era um pedido de socorro de quem fez tudo o que foi pedido e os resultados na lista de exercícios ficaram aquém do esperado. Como ela quer prestar medicina, o desespero, infelizmente, é muito grande. Segundo sua fala, ela fichou toda a matéria, mas não adiantou. 
    Fazia uns dias que o módulo 2 havia começado. Na primeira aula foram disponibilizados dois testes de aprendizagem e um de personalidade. Eu fiz todos os três e achei o resultado bastante interessante, pois foi bom voltar a pensar sobre a aprendizagem em si. Olhar um pouco para mim enquanto aprendente. Olhar para certas características da minha personalidade.
    Com base nos testes e nas discussões que fizemos na pós sobre eles, disponibilizei para o 3º ano do EM um dos testes de aprendizagem e dicas de como se organizar para estudar em casa: Aula no Flipgrid - uso o Flipgrid como um espaço de dúvidas também¹. 
   Os alunos gostaram muito do teste disponibilizado. Em nosso Meet falamos sobre ele e perguntei se alguém gostaria de fazer outros dois. Sem dúvidas a resposta foi afirmativa. Deixei claro para eles que os resultados dos testes não são absolutos: somos muito mais complexos do que eles podem avaliar. Entretanto, são boas ferramentas para o auto-conhecimento. Depois, eu discuti os resultados dos testes com alguns deles que me pediram isso. A aluna mencionada anteriormente, que não foi bem na lista, chegou à conclusão de que estava estudando errado. Ela mesma viu que fichamentos pouco adiantavam para ela. Agora, ela vai priorizar a prática, ou seja, estudará pela resolução de exercícios.

    Os testes e a nossa aula no Meet fizeram tanto sucesso que precisei organizar uma aula parecida para o 2º ano do EM, uma vez que eles ficaram sabendo e quiseram também: Aula do 2º ano. 
    
    
    Para quem se interessar, vou colocar aqui os três testes que eles fizeram: Inventário de Estilo de Aprendizagem de Kolb20 perguntas para descobrir como aprender melhor e Teste de personalidade². Vale a pena dedicar um encontro com eles para discutir os testes (que podem ser feitos anteriormente) e dicas para a organização do estudo em casa. 
    Eu estava enganada: a maioria dos meus alunos do EM não tinham consciência de como aprendem. Por isso, acredito que o professor deve sempre estudar. Não sabemos tudo. A partir do próximo ano, começarei o ano letivo com esses testes para o 1º ano do EM. 


1. Os alunos que não querem se expor no Fórum, Chat ou durante o Meet, mandam dúvidas e eu não subo o vídeo para a plataforma, pois eu não o aprovo (para isso escolho a opção "com moderador"). Eu os respondo via vídeo e mando o link por e-mail, uma vez que a resposta via vídeo não fica visível na plataforma se o vídeo original não for aprovado. O aluno só consegue assistir a minha resposta se receber o link dela.

2. Quem quiser saber mais sobre esse teste, recomendo a leitura do texto Teste MBTI.

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