Sala de aula invertida: não é tão simples como acreditam ser

    Durante uma de nossas aulas do módulo 2 (ensino híbrido e educação na era digital) da pós graduação em Metodologias ativas, Lilian Bacich, ao falar sobre as TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação), começou a abordar a sala de aula invertida. Neste momento, respirei aliviada: isso eu já conheço e aplico com meus alunos. LEDO ENGANO de minha parte.
    No módulo 1 lemos um texto sobre isso em uma dinâmica (World café) ainda presencial - estamos agora fazendo o curso online devido à pandemia do novo coronavírus. Apesar da leitura, eu não havia reparado em uma etapa essencial da sala de aula invertida: o diagnóstico do que os alunos aprenderam com a atividade prévia realizada fora do espaço escolar para que o professor possa personalizar o ensino. Foi neste momento que eu senti minhas bochechas corarem - fico assim quando me sinto muito constrangida. Naquele momento agradeci por estar em casa com a câmera do Meet fechada. 
    Para mim, a sala de aula invertida constituía-se pelo ato de fornecer ao aluno o contato com o conteúdo antes da aula. Muitos professores, infelizmente, têm essa visão simplista da sala de aula invertida. Ao ouvir a explicação da Lilian, um episódio que retrata essa visão veio a minha lembrança. No começo deste ano, em uma reunião pedagógica na instituição em que trabalho, um grupo apresentou uma proposta de trabalho para uma série do Ensino Fundamental II. Na apresentação, uma das professoras mencionou que passaria textos e vídeos antes das aulas para os alunos entrarem em contato previamente com o conteúdo. Ressaltou que isso era um avanço, uma metodologia ativa, mais especificamente "aula invertida". Não vi nada de errado na fala dela. No entanto, uma professora, ao meu lado, fez o seguinte comentário para mim após essa fala: "agora lição de casa tem outro nome". 
    Sábias palavras a dessa professora. Se aula invertida fosse só isso - proporcionar ao aluno um contato prévio com o conteúdo a ser desenvolvido - seria meramente uma lição de casa. Depois de recordar esse episódio, prometi a mim mesma que iria estudar sobre isso. A priori reli atentamente o capítulo 2 do livro Metodologias ativas para uma educação inovadora: A sala de aula invertida e a possibilidade de ensino personalizado: uma experiência com a graduação em midialogia. O capítulo 2 é um relato de experiência do professor José Armando Valente. A obra foi organizada por Lilian Bacich e por José Moran. A posteriori, fiz uma pesquisa sobre isso. 
    A sala de aula invertida é muito mais complexa do que eu imaginava e requer planejamento cuidadoso para funcionar. Quero compartilhar aqui um vídeo breve, de 3 minutos, que apresenta uma síntese sobre o assunto em questão: 


     
       Segue uma sistematização dos passos necessários para uma aula invertida: 
  1. planejamento cuidadoso da atividade com base nos objetivos que devem ser alcançados;
  2. o aluno, previamente, deve entrar em contato com o conteúdo que será trabalhado na aula presencial. Esse conteúdo deve ser apresentado de forma desafiadora por meio de uma atividade individual. Não basta ler um texto ou assistir a um vídeo. O aluno precisa por a prova as suas habilidades, como a capacidade de comparar, analisar, relacionar, inferir etc. Exemplos: um questionário sobre o conteúdo tratado, uma questão que trabalhe habilidades operacionais ou globais etc;
  3. o professor deve, antes da aula presencial, analisar o resultado da atividade realizada pelos alunos. Com isso, ele tem um diagnóstico da coletividade e de cada aluno. Dessa forma, ele pode planejar a aula presencial para que ela possa ser, na medida do possível, o mais personalizada possível;
  4. os alunos devem trabalhar em grupo nas aulas presenciais;
  5. as etapas realizadas fora do espaço escolar devem ser avaliadas formalmente bem como as presenciais.
    A Nova Escola, durante o isolamento social, está oferecendo gratuitamente um plano de aula para aplicar essa metodologia ativa: inverta a sala de aula durante a quarentena. Para quem quiser saber mais sobre a sala de aula invertida, encontrei um material muito interessante disponibilizado pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Esse material faz parte de uma dissertação de mestrado da área de tecnologia: Sala de aula invertida. Vale a pena conferir. 


    

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